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Fotografia, o Centro ao alcance do olhar
Por Ana Maria Ciccacio
Em vez de uma mesa-redonda do tipo clássico, uma reunião quase informal, mas com suficiente consistência para eleger a fotografia entre os grandes meios de apropriação do espaço urbano pelos cidadãos. Eis a síntese da mesa-redonda ?Fotografia, Arquitetura e Paisagem. Um percurso pelo Centro de São Paulo?, realizada em parceria pela Viva o Centro e o IAB-SP na noite da segunda-feira (11/9), no auditório deste último, por ocasião da abertura da exposição resultante do workshop ?Passeio Fotográfico pelo Centro?, promovido pela Associação no final de junho, como parte das comemorações de seus 15 anos.
Compuseram a mesa os fotógrafos e professores André Douek e Vivan Lembo, que orientaram o workshop, a arquiteta e curadora de exposições Rosely Nakagawa, e os professores da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, Issao Minami e Carlos Zibel. Também compareceram o presidente do IAB-SP, Arnaldo Martimo, o fotógrafo Nelson Kon, o artista plástico Takashi Fukushima e o superintendente geral da Viva o Centro, Marco Antonio Ramos de Almeida. O vice-presidente do IAB-SP, arquiteto Lúcio Gomes Machado, representando o Instituto na condução do evento, ressaltou: ?Importante é tê-los todos aqui reunidos para discutirmos que imagem as pessoas têm de sua cidade por meio da fotografia, tanto para desenvolver suas belezas como para conter suas mazelas?, disse.
O debate caminhou de maneira muito livre estimulado pelas próprias fotos selecionadas para a exposição no saguão do IAB, todas clicadas no Centro de São Paulo. Em junho, ninguém saiu da Viva o Centro para o passeio pela Sé e República com a missão de fotografar isto ou aquilo, ou de registrar esse ou aquele fato. Liberdade total e um cenário: o Centro, com seus edifícios, gentes de todas as procedências, profissões, cores, credos e estratos sociais, paisagens. Foi olhar, olhar e olhar. Deixar-se envolver e clicar.
Exercício de cidadania
Os trabalhos foram abertos por Marco Antonio Ramos de Almeida, que em nome da Viva o Centro agradeceu pelo apoio do IAB. Douek e Vivian começaram explicando o conceito que balizou o workshop, que não foi outro senão o de trazer as pessoas ao Centro, sensibilizá-las para as belezas e o processo de recuperação que está em andamento, e para que elas se sintam participantes disso.
Para Rosely Nakagawa, experimentada curadora de exposições fotográficas, acostumada a organizar mostras de grandes fotógrafos, foi altamente apropriada a orientação de Douek e Vivian aos jovens que participaram do workshop. ?Tem a ver com a apropriação do espaço urbano que a gente tem que praticar até como um exercício de resistência, seja como cidadão, como transeunte, fotógrafo, arquiteto, jornalista... Esse é um exercício criativo, que usa o espaço público, o espaço urbano.?
A arquiteta Ana Cecília Mello fez o passeio, mas disse que evitou se prender aos edifícios, optando muito mais por olhar as pessoas e a vida em cada canto visitado. ?Procuramos nos envolver com os detalhes do que a gente via. Fotografei com filme, tinha dois rolos de 36 poses cada um. Tive de me controlar, não podia errar. Temia não chegar àquela foto que eu queria e não ter mais filme na câmera. Surpresa foi ver como as pessoas usavam o Centro em um sábado de manhã. Desafiei o meu olhar. Não tinha um tema, mas ali estava a importância do Centro, era construir uma narrativa do que eu queria dizer.?
Em meio às falas, algumas pessoas lembraram que, em algum momento de suas vidas, chegaram a ter medo de andar pelo Centro com uma câmera na mão, mas que depois da primeira experiência, e do medo enfim dissipado, sempre lhes ficou o prazer de deliciosas descobertas. Rosely recordou um passeio no Pátio do Colégio, quando ainda era estudante da FAUUSP. ?É como em ginástica?, comparou. ?Acho inadmissível exercitar-se em esteira rolante em uma academia. Não vejo sentido em separar o caminhar do conhecer. É o valor da experiência peripatética proposta pelos gregos. É apropriação, exercício civil. É duplamente revolucionário.?
Segundo Issao Minami, a cidade de São Paulo, dependendo de como for olhada, pode ser muito bonita. ?Podemos olhar uma cidade como olhamos uma mulher, isto é, de maneira generalizada, contemplativa, fragmentada ou apaixonada. Seja como for, será possível perceber suas qualidades e defeitos, atenuantes e formas de melhorá-la.?
Para a jornalista Vanessa Ribeiro, que fez o passeio e está com fotos na exposição, a experiência modificou a imagem que tinha de São Paulo. ?Antes do passeio, São Paulo me parecia apenas uma cidade cinzenta. Depois passou a ser uma cidade multicultural. Mudou minha visão, hoje ela é mais social e intimista, humanizada mesmo. Foi uma experiência antropológica muito reveladora, que me aproximou mais da Praça da Sé, por exemplo. Ótimo também foi compartilhar com todos os participantes o que e por que fotografar, fazer a seleção das fotos, intuir o que havia por trás de cada imagem.?
Buscando as origens da fotografia, no século XIX, quando o desafio dos experimentadores era fotografar lance por lance o trote de um cavalo para documentar quando cada uma de suas patas saia do solo, Carlos Ziebel fez questão de insistir que as fotos não são simplesmente a captação de uma imagem, mas o anseio de capturar ?aquela? imagem com significados para além do mero registro. ?Há um discurso por trás?, disse ele, com o que Vivian Lembo, mencionando sua formação em psicologia, concordou e aproximou da subjetividade.
Cidade como objeto
Também se discutiu muito, inclusive com a participação do artista plástico Takashi Fukushima, se o melhor são as câmeras de filme ou as digitais da modernidade. Se o celular que fotografa não irá banalizar a fotografia. Questões inevitáveis a cada avanço tecnológico e que, no alvorecer da fotografia também dividiu pintores, desenhistas, gravadores e, claro, os fotógrafos, ou os pioneiros da época. No mais, um fato sobressaiu durante a mesa-redonda: hoje o acesso à imagem é bastante democrático, o que é muito bom. Todo mundo pode clicar no celular, na câmera digital, e à vontade, mas nada, nada mesmo substituirá ?a? força do olhar individual, ?aquela? que faz a diferença, que torna uma foto da Paris dos anos 30 do século XX clicada pelo francês Henri Cartier-Bresson (1908-2004) especialíssima e os retratos de personalidades clicados pelo fotógrafo brasileiro Márcio Scavone incomparáveis.
Outro dado cristalizado no debate: a cidade é cada vez mais o objeto da fotografia. ?No mundo inteiro as artes de voltam para as cidades?, lembrou Zibel. ?A cidade é o grande mote da cultura, hoje. E o que é a urbanidade senão a afirmação da capacidade humana de viver em cidades? A fotografia é um excelente instrumento para a gente tomar posse da nossa cidade.?
Cada participante do workshop fez o seu próprio acervo de fotos do Centro e a ele imprimiu ?a? sua marca. Os lugares que clicou não está ampliado somente no papel, como em suas retinas e memória. O espaço urbano do Centro agora é deles.
Serviço ?Fotografia, Arquitetura e Paisagem. Um percurso pelo Centro de São Paulo? Instituto de Arquitetos do Brasil-SP Rua Bento Freitas, 306, Vila Buarque Tel. (11) 32596866 Seg a sex, das 9h às 18h até 29/9 Metrô República
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