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Saiba Mais +A Prefeitura de São Paulo
pretende implantar um novo projeto urbanistico para o Vale do
Anhangabaú.
Com obras estimadas em mais de R$ 100 milhões, o projeto prevê a
criação de espelhos e repuxos d'água que podem ser ativados ou
desativados abrindo espaços para a realização de eventos. Quando
totalmente desativados, um imenso piso seco, desprovido de qualquer
vegetação de ponta a ponta, abriria espaço para shows que poderiam
reunir enormes multidões.
O projeto está provocando reações dos síndicos, administradores,
empresas e instituições ocupantes dos grandes edifícios que ladeiam
o Vale pela perturbação que essa nova verdadeira arena de shows
iria causar e de outras organizações e pessoas que questionam a
oportunidade e necessidade de se gastar tantos recursos nesse
projeto. Vale recordar que o atual projeto do Vale resultou de um
Concurso Nacional promovido pela EMURB (atual SP Urbanismo) e pelo
Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) e foi vencido pelo
arquiteto Jorge Wilheim e pela arquiteta e paisagista Rosa Kliass
em 1981. O intuito da reurbanização era reverter a degradação
urbana do Vale e eliminar a grande ocorrência de atropelamentos
decorrente do enorme tráfego norte-sul. A obra, finalizada em 1991,
resultou na criação de um parque público com oito hectares,
acessível por duas estações de metrô, com a ligação viária
norte-sul mantida, mas de forma subterrânea. Uma modificação no
projeto, introduzida durante a execução da obra, eliminou, no
entanto, as saídas de veículos para a Avenida São João, bloqueando
o acesso ao Centro pelo eixo norte-sul.
A Viva o Centro, que sempre defendeu a necessidade de refuncionalização do Vale do Anhangabaú, acompanhou o processo que levou a este projeto, participando de reuniões da SP Urbanismo, formulando sugestões e críticas (Texto 1 abaixo).
Após o novo projeto ser apresentado na Associação Viva o Centro, em junho de 2014, pelo diretor de Desenvolvimento da SP Urbanismo, Gustavo Partezani Rodrigues, participantes de Ações Locais e membros da comunidade do Centro presentes no evento fizeram uma manifestação por escrito, enviada ao Sr. Gustavo (texto 2).
Entre os pontos sempre salientados pela Viva o Centro
está a questão da gestão dos espaços públicos centrais. A entidade
considera ser necessário determinar como o Vale será gerido e como
será feita a manutenção dos equipamentos atuais e futuros antes
mesmo de tirar quaisquer projetos do papel, de forma a garantir as
melhores condições de uso antes, durante e depois das eventuais
obras, tanto para os usuários do lugar, quanto para quem está nos
edifícios ao seu redor.
A questão da gestão e manutenção também foi o foco da manifestação
da comunidade, que não desgosta do projeto atual mas reclama do
barulho dos eventos, da circulação caótica dos veículos
autorizados, da dificuldade da acessibilidade e do fechamento dos
sanitários existentes, não achando que o novo projeto vá trazer
melhorias à região.
Sub Sé resolve por mãos à massa
Em linha com as solicitações da comunidade, o Subprefeito da Sé, Alcides Amazonas determinou e já está executando a recuperação dos canteiros, pisos e fontes do Vale do Anhangabaú.
Texto 1
Declaração de voto da Associação Viva o Centro sobre o estudo
preliminar e projeto conceitual para nova reurbanização para o
Vale do Anhangabaú
O estudo preliminar e projeto conceitual para nova
reurbanização para o Vale do Anhangabaú, que
foi submetido à Comissão Executiva da Operação Urbana Centro
em sua 18ª Reunião Extraordinária, realizada em 20 de janeiro de
2014, para liberação de verba de R$ 2,89 milhões para a contratação
de projetos básicos e executivos, foi aprovada sem o voto da
Associação Viva o Centro (declaração de voto transcrita
abaixo). Não obstante posteriormente alguns dos problemas apontados
tenham sido equacionados, as principais questões permanecem em
aberto.
"Consideramos que a proposta apresentada deixou de abordar
aspectos fundamentais para a elaboração de um novo projeto para o
Vale do Anhangabaú:
1. Não foi apresentada uma análise do projeto atual. Onde o
projeto teria falhado, apesar de ter sido fruto de um concurso
nacional vencido por arquitetos de renome? Também não foram
analisadas as modificações que foram introduzidas no projeto
vencedor antes mesmo de sua implantação, contrariando diretrizes do
Concurso, bem como as modificações posteriores à sua implantação.
Ou seja, o projeto implantado não foi analisado.
2. Não foram apresentadas soluções ou diretrizes para alguns
dos principais problemas atuais do Vale:
a) impossibilidade de acesso adequado à área por veículos
particulares, para transporte de pessoas ou abastecimento, taxis e
ônibus, o que gera inclusive sensação de insegurança,
principalmente à noite;
b) circulação caótica (excesso de velocidade, falta de sinalização
e de trajetos definidos) dos veículos autorizados a entrar na área,
o que acarreta insegurança aos pedestres e danos aos pavimentos não
projetados para tráfego de veículos;
c) impossibilidade de melhor utilização das garagens existentes
nos edifícios do Vale.
Estas questões, ainda que cruciais, foram abordadas de
forma extremamente superficial na proposta (apenas dois parágrafos
e um desenho esquemático), isso em uma proposta com 51 páginas, que
chegou a tratar de minúcias como o formato de bancos.
3. O partido adotado pela proposta, por outro lado, exacerba um
dos maiores problemas do Vale hoje, que é o excesso de eventos com
utilização de som amplificado que ali tem lugar, principalmente
shows, que degradam o ambiente e prejudicam as atividades
cotidianas nos grandes edifícios e equipamentos culturais que
margeiam o Vale. Quanto a este aspecto, os esboços apresentados
mostram, e o texto defende, a retirada da vegetação, inclusive
árvores de grande porte, das áreas mais centrais do Vale,
deslocando-as para o seu perímetro, liberando todo o eixo central
do Vale para um grande piso frio ("seco" / "molhado"), para
viabilizar a realização de eventos de grande porte, que certamente
se tornarão rotineiros.
4. A proposta não coloca nenhuma orientação ou diretriz com
relação à questão da gestão do Vale, um dos maiores desafios a
serem enfrentados e que faz parte do escopo do projeto a ser
contratado.
No nosso entender, as diretrizes e orientações dos consultores da
Ghel Architects são válidas e pertinentes e poderiam ser utilizadas
desde já no atual projeto, por meio de estímulos aos proprietários,
comerciantes, administradores, pequenas intervenções, melhoria da
manutenção do Vale e de um novo sistema de gestão que poderia ser
implantado, independentemente da realização de grandes e
custosas obras."
Texto 2
Comunicação enviada a Gustavo Partezani Rodrigues, diretor de
Desenvolvimento da SP Urbanismo, após sua palestra na
Associação Viva o Centro aos participantes das Ações Locais e
a membros da comunidade do Centro.
"Conforme solicitado na reunião que aconteceu na
Associação Viva o Centro no dia 05/06/2014, oportunidade em que nos
apresentou o Novo Projeto para o Vale do Anhangabaú, relatamos aqui
a opinião e sugestões do grupo em relação ao Projeto:
Na condição de moradores e trabalhadores do Centro, identificamos
como os principais problemas no Vale do Anhangabaú:
- Barulho causado por grandes eventos;
- Circulação caótica de veículos;
- Dificuldade na acessibilidade;
- Sanitários já existentes fechados.
Na sua apresentação, identificamos que Projeto de reforma não terá
impacto direto em nenhuma dessas problemáticas, portanto não
percebemos que esta ação trará melhorias à região.
Sugerimos portanto que as ações voltem à Gestão e
manutenção do espaço, em especial no que atinge a:
- Regulação do uso (eventos);
- Melhoria da acessibilidade;
- Regulação da circulação de veículos;
- Melhoria da manutenção dos equipamentos (fontes, obras de arte e
sanitários) e áreas verdes.
Entendemos também que se o Vale for bem cuidado, tiver um Gerente
permanente, assistido por um Conselho Gestor e/ou Ação Local com a
participação dos síndicos e administradores dos grandes edifícios e
dos equipamentos culturais da área (Centro Cultural dos Correios,
Praça das Artes/Teatro Municipal), bem como possibilitar o acesso à
área inclusive por taxis, a segurança e a sensação de segurança
melhorarão em muito e com isso também a frequência na área,
inclusive à noite.
Concluímos sugerindo que iniciem as ações de melhoria daquela área
com esta proposta de Gestão antes do fechamento do Projeto
Físico, o que, ao nosso ver, nos dará maiores subsídios para
decidirmos sobre detalhes da reforma.
Nos colocamos à disposição para darmos continuidade ao diálogo com
o objetivo de contribuirmos para a otimização de recursos e
elaboração de um projeto que atenda à comunidade de forma
organizada e efetiva."