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Novo projeto para o Anhangabaú já provoca reações

02/10/2015

A Prefeitura de São Paulo pretende implantar um novo projeto urbanistico para o Vale do Anhangabaú.

Com obras estimadas em mais de R$ 100 milhões, o projeto prevê a criação de espelhos e repuxos d'água que podem ser ativados ou desativados abrindo espaços para a realização de eventos. Quando totalmente desativados, um imenso piso seco, desprovido de qualquer vegetação de ponta a ponta, abriria espaço para shows que poderiam reunir enormes multidões. Vale

O projeto está provocando reações dos síndicos, administradores, empresas e instituições ocupantes dos grandes edifícios que ladeiam o Vale pela perturbação que essa nova verdadeira arena de shows iria causar e de outras organizações e pessoas que questionam a oportunidade e necessidade de se gastar tantos recursos nesse projeto. Vale recordar que o atual projeto do Vale resultou de um Concurso Nacional promovido pela EMURB (atual SP Urbanismo) e pelo Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) e foi vencido pelo arquiteto Jorge Wilheim e pela arquiteta e paisagista Rosa Kliass em 1981. O intuito da reurbanização era reverter a degradação urbana do Vale e eliminar a grande ocorrência de atropelamentos decorrente do enorme tráfego norte-sul. A obra, finalizada em 1991, resultou na criação de um parque público com oito hectares, acessível por duas estações de metrô, com a ligação viária norte-sul mantida, mas de forma subterrânea. Uma modificação no projeto, introduzida durante a execução da obra, eliminou, no entanto, as saídas de veículos para a Avenida São João, bloqueando o acesso ao Centro pelo eixo norte-sul.

A Viva o Centro, que sempre defendeu a necessidade de refuncionalização do Vale do Anhangabaú, acompanhou o processo que levou a este projeto, participando de reuniões da SP Urbanismo, formulando sugestões e críticas (Texto 1 abaixo).

Após o novo projeto ser apresentado na Associação Viva o Centro, em junho de 2014, pelo diretor de Desenvolvimento da SP Urbanismo, Gustavo Partezani Rodrigues, participantes de Ações Locais e membros da comunidade do Centro presentes no evento fizeram uma manifestação por escrito, enviada ao Sr. Gustavo (texto 2).

Entre os pontos sempre salientados pela Viva o Centro está a questão da gestão dos espaços públicos centrais. A entidade considera ser necessário determinar como o Vale será gerido e como será feita a manutenção dos equipamentos atuais e futuros antes mesmo de tirar quaisquer projetos do papel, de forma a garantir as melhores condições de uso antes, durante e depois das eventuais obras, tanto para os usuários do lugar, quanto para quem está nos edifícios ao seu redor.

A questão da gestão e manutenção também foi o foco da manifestação da comunidade, que não desgosta do projeto atual mas reclama do barulho dos eventos, da circulação caótica dos veículos autorizados, da dificuldade da acessibilidade e do fechamento dos sanitários existentes, não achando que o novo projeto vá trazer melhorias à região.

Sub Sé resolve por mãos à massa

Em linha com as solicitações da comunidade, o Subprefeito da Sé, Alcides Amazonas determinou e já está executando a recuperação dos canteiros, pisos e fontes do Vale do Anhangabaú.



Texto 1
Declaração de voto da Associação Viva o Centro sobre o estudo preliminar e projeto conceitual para nova reurbanização para o Vale do Anhangabaú 

O estudo preliminar e projeto conceitual para nova reurbanização para o Vale do Anhangabaú, que foi submetido à Comissão Executiva da Operação Urbana Centro em sua 18ª Reunião Extraordinária, realizada em 20 de janeiro de 2014, para liberação de verba de R$ 2,89 milhões para a contratação de projetos básicos e executivos, foi aprovada sem o voto da Associação Viva o Centro (declaração de voto transcrita abaixo). Não obstante posteriormente alguns dos problemas apontados tenham sido equacionados, as principais questões permanecem em aberto. 

"Consideramos que a proposta apresentada deixou de abordar aspectos fundamentais para a elaboração de um novo projeto para o Vale do Anhangabaú:

1. Não foi apresentada uma análise do projeto atual. Onde o projeto teria falhado, apesar de ter sido fruto de um concurso nacional vencido por arquitetos de renome? Também não foram analisadas as modificações que foram introduzidas no projeto vencedor antes mesmo de sua implantação, contrariando diretrizes do Concurso, bem como as modificações posteriores à sua implantação. Ou seja, o projeto implantado não foi analisado. 

2. Não foram apresentadas soluções ou diretrizes para alguns dos principais problemas atuais do Vale:

a) impossibilidade de acesso adequado à área por veículos particulares, para transporte de pessoas ou abastecimento, taxis e ônibus, o que gera inclusive sensação de insegurança, principalmente à noite;

b) circulação caótica (excesso de velocidade, falta de sinalização e de trajetos definidos) dos veículos autorizados a entrar na área, o que acarreta insegurança aos pedestres e danos aos pavimentos não projetados para tráfego de veículos;

c) impossibilidade de melhor utilização das garagens existentes nos edifícios do Vale.

Estas questões, ainda que cruciais, foram abordadas de forma extremamente superficial na proposta (apenas dois parágrafos e um desenho esquemático), isso em uma proposta com 51 páginas, que chegou a tratar de minúcias como o formato de bancos.

3. O partido adotado pela proposta, por outro lado, exacerba um dos maiores problemas do Vale hoje, que é o excesso de eventos com utilização de som amplificado que ali tem lugar, principalmente shows, que degradam o ambiente e prejudicam as atividades cotidianas nos grandes edifícios e equipamentos culturais que margeiam o Vale. Quanto a este aspecto, os esboços apresentados mostram, e o texto defende, a retirada da vegetação, inclusive árvores de grande porte, das áreas mais centrais do Vale, deslocando-as para o seu perímetro, liberando todo o eixo central do Vale para um grande piso frio ("seco" / "molhado"), para viabilizar a realização de eventos de grande porte, que certamente se tornarão rotineiros.

4. A proposta não coloca nenhuma orientação ou diretriz com relação à questão da gestão do Vale, um dos maiores desafios a serem enfrentados e que faz parte do escopo do projeto a ser contratado.

No nosso entender, as diretrizes e orientações dos consultores da Ghel Architects são válidas e pertinentes e poderiam ser utilizadas desde já no atual projeto, por meio de estímulos aos proprietários, comerciantes, administradores, pequenas intervenções, melhoria da manutenção do Vale e de um novo sistema de gestão que poderia ser implantado, independentemente da realização de grandes e custosas obras."


Texto 2
Comunicação enviada a Gustavo Partezani Rodrigues, diretor de Desenvolvimento da SP Urbanismo, após sua palestra na Associação Viva o Centro aos participantes das Ações Locais e a membros da comunidade do Centro.

"Conforme solicitado na reunião que aconteceu na Associação Viva o Centro no dia 05/06/2014, oportunidade em que nos apresentou o Novo Projeto para o Vale do Anhangabaú, relatamos aqui a opinião e sugestões do grupo em relação ao Projeto:

Na condição de moradores e trabalhadores do Centro, identificamos como os principais problemas no Vale do Anhangabaú:

- Barulho causado por grandes eventos;
- Circulação caótica de veículos;
- Dificuldade na acessibilidade;
- Sanitários já existentes fechados.

Na sua apresentação, identificamos que Projeto de reforma não terá impacto direto em nenhuma dessas problemáticas, portanto não percebemos que esta ação trará melhorias à região.

Sugerimos portanto que as ações voltem à Gestão e manutenção do espaço, em especial no que atinge a:

- Regulação do uso (eventos);
- Melhoria da acessibilidade;
- Regulação da circulação de veículos;
- Melhoria da manutenção dos equipamentos (fontes, obras de arte e sanitários) e áreas verdes.

Entendemos também que se o Vale for bem cuidado, tiver um Gerente permanente, assistido por um Conselho Gestor e/ou Ação Local com a participação dos síndicos e administradores dos grandes edifícios e dos equipamentos culturais da área (Centro Cultural dos Correios, Praça das Artes/Teatro Municipal), bem como possibilitar o acesso à área inclusive por taxis, a segurança e a sensação de segurança melhorarão em muito e com isso também a frequência na área, inclusive à noite.

Concluímos sugerindo que iniciem as ações de melhoria daquela área com esta proposta  de Gestão antes do fechamento do Projeto Físico, o que, ao nosso ver, nos dará maiores subsídios para decidirmos sobre detalhes da reforma.

Nos colocamos à disposição para darmos continuidade ao diálogo com o objetivo de contribuirmos para a otimização de recursos e  elaboração de um projeto que atenda à comunidade de forma organizada e efetiva."

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