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Patrimônio histórico: meu, seu, de todos
Por Ana Maria Ciccacio
Por trás de atos de vandalismo e pichação de monumentos, prédios históricos e espaços públicos, assim como da apatia diante deles em muitos casos, o problema pode ser um só, como resumiu o Prof. Dr. Airton Cavenaghi, da Universidade Anhembi Morumbi, em palestra no auditório da Viva o Centro esta semana. Quem vandaliza ou ignora o patrimônio histórico não se sente pertencente à cidade. Não encara monumentos, prédios e espaços públicos como seus nem como significativos o suficiente a ponto de valer a pena preservá-los. Mas está mudando, embora o processo possa ser demorado.
Segundo Cavenaghi, entidades como a Associação Viva o Centro e as Ações Locais têm feito um trabalho importante para reverter o sentimento de não pertencimento dos cidadãos. ?Essas entidades, quando envolvem a comunidade para diagnosticar problemas e apresentar propostas para solucioná-los, transmitindo ao mesmo tempo conhecimento sobre o lugar em que ela vive e o porquê de preservá-lo, estão criando uma identidade coletiva. E é esta identidade que fortalece o sentimento de pertencimento das pessoas à cidade.? Sentimento este que leva naturalmente a respeitar, querer bem e cuidar da cidade.
A palestra de Cavenaghi sobre ?Patrimônio Histórico Cultural ? A Importância para a Cidade? faz parte do ciclo gratuito de palestras organizado pela Associação e a Universidade Anhembi Morumbi para dirigentes das Ações Locais e de estabelecimentos comerciais, hoteleiros e culturais instalados no Centro, com o objetivo de fornecer aos participantes elementos para melhorar o atendimento turístico na região.
Encarando o problema
Em sua exposição, Cavenaghi utilizou mapas e desenhos para recontar a história de São Paulo de vila acanhada e isolada no planalto à metrópole de 10,8 milhões de hoje. ?A São Paulo que temos hoje ? segundo o professor ? não é nem a cidade idealizada, como o caso de Brasília, criada a partir do nada; nem é uma cidade codificada como Londrina, sobre a qual se aplicou um plano diretor, um outro de obras e um código de postura municipal, que tentam ordenar o crescimento urbano; nem, tampouco, a cidade imaginada, ou uma cidade histórica como Ouro Preto, onde se imagina um passado glorioso e não se vive a realidade presente.?
São Paulo hoje, na visão de Cavenaghi, balizada por diversos estudos, reúne a herança de modelos sócio-culturais múltiplos. O passado indígena presente na descrição de muitos espaços urbanos (o Anhangabaú, por exemplo), um patrimônio cultural intangível; a cidade do café, com seu patrimônio cultural edificado e reconhecido como os principais elementos históricos existentes, um patrimônio tangível; e os habitantes, em sua maioria, sem identidade com o local onde vivem. ?Esse habitante não observa sua memória formativa na atual paisagem urbana, ou não se identifica com o espaço edificado?, disse o professor. ?Ele passa pelo Centro sem perceber o que ele foi. E por não se sentir ali, não se sente nesse passado.?
Como mostrou o professor, a questão da identidade com os patrimônios culturais urbanos sugere questões do tipo: o que seria significativo e representativo de fato para a população? Com que parte da cidade o habitante se identificaria? Seria algo nascido espontaneamente ou moldado pelos elementos gestores da urbe? O que seria significativo para a memória? Ou, qual memória se quer preservar? A individual ou a coletiva?
As respostas, segundo Cavenaghi, são possíveis mediante algumas ações simples. ?Buscar a interação entre os habitantes e os espaços urbanos: mostrar-lhes a história viva do local com fotos comparativas, por exemplo, de como foi e de como está agora. Mostrar representações locais (bairros) e fazer associações tangíveis e intangíveis com os patrimônios tombados/reconhecidos no Centro da cidade. Trabalhar a identidade total da cidade, descobrir e valorizar a idéia concebida pela população para o espaço territorial da cidade por ela conhecido e identificado em seu cotidiano.?
?A identidade do indivíduo com sua cidade não é algo construído da noite para o dia, mas um processo?, diz Cavenaghi. Para isso, as informações precisam circular, serem democratizadas mesmo e ter sua compreensão facilitada para atingir o maior número possível de pessoas. Não há sentido que um mapa ilustrativo de uma região, pontuando seus atrativos, entre eles até os de entrada franca, tenha tiragens limitadas, ou cifradas demais, que alcançam poucas pessoas quando temos milhões e milhões de habitantes e somos visitados por outros tantos. Para os guias de turismo, especialmente, Cavenaghi sugere que ao falar de determinado bem tombado, procurem vinculá-lo de alguma forma ao dia-a-dia de quem ouve a explanação. ?Sempre é possível, e compensa?, garante.
Ao final da palestra, o professor ainda respondeu a muitas perguntas da platéia, entusiasmada com os conhecimentos trazidos e querendo mais. Airton Cavenaghi falou à platéia principalmente sem utilizar nenhum viés saudosista. Não se trata de reaver o passado, o que é uma impossibilidade em termos, mas de compreendê-lo na linha do tempo e a nós também como parte da História. Você só protege aquilo que você conhece e sente que é seu.
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