Secretário dos Transportes
Metropolitanos, em palestra
na Viva o Centro, garante que rede metroferroviária
de São Paulo está nos trilhos
Rafael Martinss
Secretário
Jurandir Fernandes na Viva o Centro
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Por Ana
Maria Ciccacio
São promissoras as perspectivas apontadas pelo secretário Estadual
dos Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes, para o
transporte público em São Paulo. Em palestra na Viva o Centro, na
terça-feira (7/2), o secretário garantiu que os investimentos
continuam pesados. "Até 2014 é fazer e fazer. Temos em obras de
expansão quatro linhas do Metrô e uma da CPTM. Vamos começar a
extensão a Varginha e o Expresso ABC e fazer o trem para Cumbica.
Há estações em reforma e compramos novos trens. Mas não dá para
continuar com a Linha 17 encalacrada, ainda sem licenciamento
ambiental. Ela é importantíssima para a rede".
A palestra do secretário Jurandir Fernandes inaugurou o auditório
da nova sede da Viva o Centro, na Rua da Quitanda, e abriu o ciclo
de palestras 2011 da entidade. Principalmente, foi além do tema
inicialmente proposto, que era falar apenas sobre os impactos do
Metrô no Centro, e abrangeu praticamente todo o projeto dos
transportes sobre trilhos para a região metropolitana nos próximos
anos.
Na abertura do evento, o superintendente da Viva o Centro, Marco
Antonio Ramos de Almeida, pediu compreensão dos presentes para as
condições ainda não ideais do auditório, devido à mudança recente,
e agradeceu a presença do secretário. "Todo o conhecimento recebido
durante as palestras promovidas pela entidade é muito importante
para nós porque, além de ser disponibilizado em nossos meios de
comunicação, serve para alimentar os estudos e propostas que a Viva
o Centro desenvolve."
Dizendo-se honrado, o secretário elogiou a atuação da Viva o
Centro. "Vocês, há mais de 20 anos, souberam encarar de frente a
questão do tempo, sem imediatismos, e reverteram a situação de
deterioração do Centro de São Paulo, o que hoje é reconhecido por
todos. Parabéns. Fico feliz, também, de estar aqui e falar com
vocês sobre os projetos do transporte público à luz do Centro, e
ouvir como vocês os recebem, com o que podem contribuir."
Luz de várias luzes
Em sintonia com o Centro, o secretário começou a palestra pela
Estação da Luz, que no seu entender hoje não é uma, mas várias
estações. A antiga, centenária, "o nosso mais belo patrimônio
arquitetônico", tem as quatro plataformas utilizadas por duas
linhas de trem: a Linha 7, que vem de Francisco Morato, e a Linha
11, ou Expresso Leste, que vem de Guaianases. Existe a Estação Luz
da Linha 1-Azul do Metrô e recentemente a Estação Luz da Linha
4-Amarela, inaugurada em 15 de setembro de 2011.
Jurandir Fernandes encheu a boca ao falar das modernidades
tecnológicas, de conforto e segurança introduzidas na Linha 4: "Sem
querer ser pleonástico, a Linha 4 é o nosso top de linha em todos
os sentidos. Ontem (6/2) entregamos os quatro primeiros trens
(semelhantes aos da Linha 4) para operar na Linha 8 da CPTM, cada
um com oito carros num salão contínuo de 172 metros de comprimento.
Melhoram a distribuição do ar condicionado, o atendimento a
incidentes e a segurança, com as câmeras de monitoramento."
Importância da rede
Desde o embrião do PITU-Plano Integrado de Transportes Urbanos,
desenvolvido em 1993, a Região Metropolitana de São Paulo sonhava
com uma Rede Metroferroviária, algo conseguido somente a partir de
2011, com a entrada em operação da Linha 4-Amarela do Metrô, que
conectou todas as demais linhas existentes, tanto as do próprio
Metrô como as da CPTM.
As empresas da rede continuam distintas - Companhia do Metrô e CPTM
-, como observou o secretário Jurandir Fernandes, mas o usuário vai
sentindo cada vez mais que as diferenças entre elas tendem a zero.
A tarifa é única e com integração forte em diversos pontos (Luz,
Guaianases, Pinheiros, Barra Funda, Brás). "Quem é mais jovem pensa
que sempre foi assim, mas não", recordou o secretário. "Antes de
1995-96 para passar de um sistema para o outro a gente pagava. Aqui
você anda 335 quilômetros de rede com a mesma tarifa de R$ 2,90:
são 75 km de Metrô e 260 km de CPTM."
Neste ponto o secretário dos Transportes Metropolitanos revelou se
irritar apenas com quem tem mania de comparar São Paulo com a
Cidade do México e sobrepor as vantagens daquela sobre a nossa
metrópole. "Lá não tem integração do Metrô (cerca de 200 km de
extensão) com a CPTM deles (17 km). Há quatro anos não aumenta o
número de passageiros; aliás, houve queda de 2%."
Rafael Martinss
Segundo o
secretário, utilizam hoje a Linha 4 540 mil
passageiros/dia
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Superlotação, problema que se
atenua
Jurandir Fernandes admite haver superlotação na rede
metroferroviária paulista, principalmente na Linha 4 do Metrô.
Começou com 70 mil passageiros/dia em meados de setembro. No dia 26
de setembro foi para 420 mil passageiros/dia. Hoje está com 540 mil
passageiros/dia, mais de meio milhão de pessoas. "Funciona como
vasos comunicantes. A natureza faz isso, as águas se comunicam e
procuram os melhores caminhos. O fluxo de pessoas também. A
racionalidade humana busca sempre as melhores alternativas. As
pessoas deixaram de pegar ônibus no Largo 13 e passaram a se
deslocar de Metrô."
A rede toda, no ano passado, sofreu o impacto da sobrecarga de 1,2
milhão de passageiros/dia, volume próximo ao de passageiros/dia
transportados pelo Metrô e as linhas de trem do Rio de Janeiro
juntos. Hoje, em São Paulo, a Rede transporta 7,2 milhões de
pessoas/dia. "Foi um tsunami esse 1,2 milhão a mais. Não foi
crescendo mês a mês, foi de uma vez, com a inauguração da Linha 4.
Então deu mesmo problemas de gargalo, de superlotação, mas isso se
ajusta com o tempo, como vem acontecendo, e também será atenuado
com a expansão das linhas."
As perspectivas são de melhoria, portanto? Segundo o secretário,
sim. São de melhoria, e por diversos motivos: há recursos e os
investimentos continuam pesados. "Estamos fazendo a extensão de
quatro linhas de Metrô ao mesmo tempo: da Linha 5 e a segunda fase
da Linha 4 (ambas subterrâneas), da Linha 17 e da Linha 2 (ambas em
elevado, monotrilho), estendendo a Linha 8 da CPTM de Itapevi para
Amador Bueno, vamos começar a extensão para Varginha, vamos começar
o Expresso ABC e fazer o trem para o Aeroporto de Guarulhos. É uma
avalanche de obras, cinco delas já ocorrendo (veja o que está
planejado até 2014 no mapa no final do texto). Fora isso
estamos fazendo reforma de estações e comprando novos trens."
Deve ajudar também o fato de a população estar crescendo menos
ultimamente, a taxas muito inferiores do que as verificadas nas
décadas de 1970, 1980. A cidade de São Paulo tem hoje uma taxa de
crescimento de 0,6%, o que significa que a população só irá dobrar
em 20 anos. Conta ainda a favor de São Paulo, na visão do
secretário Jurandir Fernandes, a migração invertida. Cresce o
número de pessoas que se mudam para o interior do Estado e outros
Estados, incluindo os Estados do Nordeste.
"Temos forte investimento, população crescendo menos e mais gente
pensando em planejamento, como vocês fizeram e continuam fazendo
aqui na Viva o Centro. Por isso eu sou muito otimista com relação a
São Paulo para os próximos anos", enfatizou Jurandir
Fernandes.
Novidades
Ao superintendente da Viva o Centro, Marco Antonio Ramos de
Almeida, que recordou a proposta feita pela entidade de se fazer
uma ligação segregada da Estação da Luz à Estação Júlio Prestes,
paralela aos trilhos, para pedestres, o secretário respondeu
positivamente. "Estamos pensando nisso sim: um túnel com esteira
rolante. E também projetando mais duas saídas para a Linha 4 na
Estação da Luz, do lado da Avenida Casper Líbero, a fim de melhorar
a circulação das 465 mil pessoas/dia que a utilizam. É uma estação
que não foi pensada para mais do que 30 mil ou 40 mil. É como abrir
novos dutos para o escoamento dos fluxos."
No domingo (12/2) expira o prazo de 120 dias para oito grupos
privados apresentarem à Secretaria de Transportes Metropolitanos
propostas de projeto para a Linha 6-Laranja do Metrô, que vai ligar
Brasilândia, passando por Santa Marina, à Estação São Joaquim na
Linha 1-Azul, com traçado definido pelo governo. Uma vez escolhido
o melhor projeto, as obras serão licitadas. Construtoras
estrangeiras também poderão participar. "É uma PPP patrocinada.
Quem fizer a linha vai receber a tarifa e uma parcela de
contraprestação que o governo vai pagar em 20 anos", explicou o
secretário. "Vamos deixar cerca de 90 km de canteiros de obras
contratados para o próximo governo."
Encalacrada
O PITU-Plano Integrado de Transportes Urbanos 2020 foi saindo aos
poucos do papel, integrando e mostrando que esse é o caminho. O
PITU 2025 está em andamento e o PITU 2030 começa a ser desenhado,
mas algo preocupa particularmente o secretário: é a Linha 17-Ouro
Monotrilho, que irá do Jabaquara, passando Aeroporto de Congonhas,
Águas Espraiadas, Marginal Pinheiros, Estádio do Morumbi, até a
Linha 4, na Vila Sônia. "É uma linha muito importante, porque vai
interligar vários bairros e descongestionar o Centro. Brigamos há
um ano e meio e até agora nada de obter a licença ambiental."
Por fim, o secretário Jurandir Fernandes respondeu a várias
perguntas da plateia, que participou animadamente da palestra, e
aos jornalistas presentes, voltando a enfatizar: "Estamos
encalacrados com a Linha 17. O tempo está passando. Já temos toda a
infraestrutura contratada. Precisamos que o debate cresça
democraticamente sobre essa Linha, que vai ligar Congonhas ao
sistema metroferroviário e transportará de imediato 450 mil
passageiros/dia. Se a sociedade achar que não precisa, vamos
conversar. O que não pode é ficar nesse impasse."
Para o secretário não tem sentido atrasar mais nenhuma obra do
Metrô. Transporte sobre trilhos é fundamental para a metrópole
deslanchar. Em alguns lugares pelo mundo se dispensa obra de Metrô
de relatório de impacto ambiental, como foi lembrado por um dos
presentes após a palestra. Por hipótese, Metrô é ambientalmente
interessante por tirar ônibus e carros das ruas e colocar as
pessoas circulando sobre trilhos, sem poluir. Entre negativo e
positivo, o balanço tende sempre favoravelmente ao
Metrô.
Secretária Estadual de Transportes
Metropolitanos
Expansões
previstas até 2014 na Rede Metroferroviária de São Paulo
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