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Valor e referencial de São Paulo está em veja a galeria de fotos do evento
Essa é a principal conclusão da mesa-redonda sobre Identidade Cultural Paulistana realizada nesta quarta-feira (25/4) pela Viva o Centro. Enquanto Veneza é uma cidade que está pronta há muito tempo, São Paulo, que explodiu somente no século XX, continua crescendo, e crescendo na multiplicidade em todos os sentidos. O evento foi moderado pelo consultor da Associação, Jorge da Cunha Lima, e lotou o auditório da entidade.
Deram sua contribuição ao debate o diretor do Istituto Europeo de Design, Marko Brajovic, o DJ e jornalista Camilo Rocha, o diretor do Programa Entrelinhas da TV Cultura, Ivan Marques, o jornalista da Folha de S. Paulo, Raul Juste Lores, e o arquiteto especialista em cultura e linguagem juvenis, Baixo Ribeiro. Também compuseram a mesa o superintendente geral da Viva o Centro, Marco Antonio Ramos de Almeida, e a coordenadora do Núcleo de Estudos da entidade, Lui Carolina Tanaka, que organizou o evento.
Jorge da Cunha Lima abriu os trabalhos dizendo que São Paulo começou a mostrar sua identidade em pontos marcantes da história, como a Revolução Constitucionalista de 1932. Ele lembrou que a cidade oferece semanalmente cerca de 10 exposições diferentes de artes plásticas, além de 300 estréias anuais no teatro. Segundo ele, a identidade de São Paulo hoje é rarefeita, e a cidade apresenta uma multicentralidade. "No entanto, vale perguntar: Qual o espaço geográfico que identifica São Paulo? Qual o papel do Centro nisso?" Para Cunha Lima, ?o Centro dispõe de excelente infra-estrutura, equipamentos culturais relevantes e história. São Paulo já foi a maior cidade industrial da América Latina e transita para ser a maior capital de serviços?.
São Paulo é São Paulo
Marko Brajovic disse que o primeiro passo para se encontrar a identidade de uma cidade é questionar, e acrescentou outras tantas perguntas às que haviam sido feitas por Cunha Lima: Há sinais que identificam os paulistanos? Qual a sinergia social da cidade? Quais intervenções são necessárias na busca da identidade da cidade? Ele entende que São Paulo concentra toda a complexidade de uma grande metrópole contemporânea. ?Não é uma cidade européia, nem novaiorquina, e não precisa ser. São Paulo é São Paulo.? Brajovic compara a cidade a um corpo vivo, que sofre mudanças e tem seu metabolismo e órgãos. Ele criticou os estruturalistas. ?Não dá para desmontar um corpo vivo e remontá-lo depois.? O diretor do IED destacou a constante mudança por que passa esse corpo, que possui uma energia vital sobre a qual precisamos ter consciência.
Já o DJ Camilo Rocha disse que a vida noturna tem um grande papel na construção da identidade de São Paulo e na requalificação do Centro. Isto tanto do ponto de vista cultural quanto do entretenimento. ?Novas casas noturnas têm sido abertas no Centro. Elas estão ajudando a trazer pessoas de volta à região, além de ocupar espaços.? Ele lembrou que um exemplo de como utilizar bem o espaço público é a Virada Cultural Paulistana, que acontecerá nos dias 5 e 6 de maio e movimentará todo o Centro.
Identidade literária
Ivan Marques ofereceu à platéia um panorama da construção literária da identidade paulistana, começando pela publicação do livro ?Paulicéia Desvairada?, de Mário de Andrade, o primeiro livro modernista da literatura brasileira. ?Esse livro se colocou a tarefa de registrar os contrastes dessa civilização moderna.? Seu poema de abertura começa com um verso emblemático: ?São Paulo, comoção da minha vida?. Depois vem Macunaíma, ou a cidade vista pelo indígena. ?São Paulo é ao mesmo tempo civilização e barbárie. Fala francês, mas não possui uma identidade própria.? 40 anos depois, segundo Marques, aparece ?Paranóia?, de Roberto Piva, com uma visão alucinatória da cidade. ?É um romântico falando extravagantemente contra aristocratas e hipócritas.? Em Piva, há uma preferência pela noite. Seu roteiro é psicodélico, feroz. Outra marca da identidade paulistana é o caos urbano. Em 1978, com Caetano Veloso, e seu chorinho ?Sampa?, a experiência da cidade ultrapassa o indivíduo, como no verso: ?Alguma coisa acontece no meu coração?. Em Caetano, São Paulo fascina e é, ao mesmo tempo, repulsiva, mas absorve tudo, inclusive os novos baianos. Finalizando esse panorama, Marques citou o livro ?Paixão por São Paulo?, com 70 depoimentos de personalidades por ocasião dos 450 anos da cidade. Um deles, Glauco Matoso, define a cidade como um working in progress, um local que não propicia indiferença ou apatia.
O jornalista Raul Juste Lores comparou a São Paulo da 1ª metade do século XX com a Xangai atual. ?A cidade que, sem planejamento, cresce ininterruptamente, sem ter sido corte do império ou capital da república federal. ?São Paulo é PHD em saber respeitar as diferenças?. Ele insiste no papel do Centro nesse processo. ?O Centro é um resumo do que a cidade tem de melhor. É o lugar das misturas étnicas, da diversidade cultural, da Vila Itororó, do Edifício Martinelli, do Ciccilo Matarazzo, de Assis Chateubriand. Nas últimas quatro décadas, a cidade negou tudo isso. ?É cada vez mais a cidade do carro, do muro, do controle remoto. Não é a cidade do ponto de encontro, a não ser no Centro. A questão é como conquistar corações e mentes para a importância do Centro.?
Choque de gerações
Baixo Ribeiro ressaltou a característica cosmopolita da cidade de São Paulo. ?Descobri isso no contato que tive com os estrangeiros que vêm para cá.? Segundo ele, ?identidade é um assunto muito complexo. São Paulo não pára de crescer, diferente de Veneza que parou há muito tempo. Na capital paulista, a cultura é sempre nascente. Ribeiro disse que a requalificação do Centro é importante pelo valor simbólico que a região possui. Ele lembrou que nas décadas de 1980 e 1990 o mundo passou por grandes transformações: o fim da Guerra Fria, o aparecimento da Aids em contraste com o sexo livre, o surgimento da internet. ?Isso faz surgir uma geração inteira com visão de mundo completamente diferente das anteriores. A gente é um pouco cego para o que acontece com os jovens hoje, e por isso ocorre um choque de gerações.? Ribeiro destaca que a cidade tem muitos personagens, entre eles os skatistas e os pichadores. Estes últimos se apropriaram do espaço público já degradado da Avenida Santo Amaro, por exemplo. ?A quantidade da pichação é tanta que aquilo, por mais polêmico que seja, vira uma marca da cidade. Essa massa de letras, de energia, não é desprezível. Ela é adolescente, forte, deve se aproveitar isso bem. O desafio é desvendar o mistério.?
No final, com o debate aberto, Cunha Lima observou: ?A tela é que está deformada. O pichador vem salvar a tela como suporte da criatividade urbana e o skatista pode ser o antídoto contra a decadência.?. Conclusão ótima: só a humanização resolve, e o espaço adequado é o Centro. Brajovic vê na arquitetura do Centro, com seus edifícios e galerias, a antítese da grade, do muro, do condomínio fechado, por causa de térreos permeáveis como o Edifício Copan. A energia social é o que dá segurança a um lugar.?Havendo gente na rua o lugar é seguro.?
?A própria arquitetura residencial do Centro mostra uma São Paulo que conseguia conviver com as diferenças.?, segundo Lores. ?A tragédia é uma pessoa demorar 3 ou 4 horas para sair da periferia e trabalhar no Centro.?Não podemos nos contentar com a abertura de três ou quatro cafés no Centro. Enquanto não vierem para cá empresas que tragam empregos, incentivo a habitação de classe média e popular, não convenceremos as pessoas do valor que tem o Centro.?
A identidade de São Paulo é um assunto complexo e que merece ser debatido mais vezes, foi o que os participantes do evento concluíram ao final. É assunto para muitos debates. Mais do que o espaço físico, pensando o ser humano como solução, um grande passo já foi dado. |