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Viva o Centro questiona proposta de concha acústica no Anhangabaú
A Associação Viva o Centro foi surpreendida com a notícia intitulada "Anhangabaú pode ganhar anfiteatro para shows", publicada nas edições de terça-feira (12/7) dos jornais O Estado de S. Paulo e Jornal da Tarde.
Os jornais noticiaram que se acha na Prefeitura a maquete de um projeto para uma espécie de concha acústica, ou anfiteatro, sob o Viaduto do Chá, o que tornaria o Vale um local permanentemente franqueado a eventos, e com o tempo até mesmo aos eventos de massa. A Viva o Centro já se manifestou contrária ao projeto em carta remetida ao prefeito.
"Seria um enorme retrocesso, e por várias razões", alerta o presidente executivo da Associação, Marco Antonio Ramos de Almeida. O hoje verdejante parque urbano existente no Vale do Anhangabaú está entre as grandes conquistas da coletividade do Centro de São Paulo nos últimos anos.
Segundo Marco Antonio, ao contrário do que parece à primeira vista, eventos de grande porte devem ser realizados em vias públicas, e não em parques. "Nestas, os órgãos encarregados do trânsito providenciam os desvios necessários no tráfego e obrigatoriamente o restabelecem horas após o término do evento, para que o fluxo volte ao normal o mais rápido possível", diz. "O mesmo não acontece em áreas fechadas, como é o caso do Vale, que tendem a se deteriorar com a repetição de tais eventos e a falta de cuidado de seus realizadores."
Entre os exemplos apropriados, o presidente executivo da entidade lembra as recentes comemorações dos 450 Anos de São Paulo na Avenida 23 de Maio, com apogeu na entrada do Anhangabaú, onde foi instalado um palco, mas voltado para a avenida, ou seja, de costas para o Vale.
Parque urbano
O Vale do Anhangabaú demorou muito para adquirir a atual configuração de cartão-postal. Nos anos 80, quando abrigou o famoso comício das Diretas Já, sua configuração ainda não era a de um parque urbano, como atualmente, mas sim o de uma avenida larga, com fluxo intenso de veículos ligando o Norte ao Sul da cidade.
No começo dos anos 90, o Vale passou por ampla reforma e recebeu um novo paisagismo, enquanto o tráfego pesado de passagem foi todo direcionado para os túneis. Apesar de todas essas melhorias, por anos as árvores e jardins do Anhangabaú não tinham chance de se desenvolver plenamente, porque o espaço continuou cedido com freqüência a grandes shows de massa, após os quais o logradouro ficava com o aspecto de terra arrasada. Foram anos de luta para mudar esse quadro.
Hoje, graças aos esforços da Associação Viva o Centro e de empresas privadas a ela associadas e das Ações Locais Anhangabaú e Praça Ramos, o Vale é um logradouro bonito e bem conservado, autêntico cartão-postal do Centro. Seus jardins e fontes são mantidos pelo BankBoston. O mesmo acontece com os jardins da Praça Ramos de Azevedo, mantidos da mesma forma pelo Grupo Votorantim e passeios e esculturas, pela Klabin.
Acústica imprópria
"O Vale do Anhangabaú também não se presta a grandes eventos por problemas de acústica", acrescenta Marco Antonio. O espaço, além de abrigar o prédio da Prefeitura de São Paulo, reúne cinco dos maiores edifícios da cidade, com grandes empresas, sedes de entidades associativas, vários órgãos públicos e está sempre em contínua atividade noturna, seja pela realização de cursos e seminários nos auditórios dessas instituições seja pelos espetáculos do próprio Teatro Municipal, que não podem ser prejudicados pelo excesso de ruído produzido por eventos de massa.
Isso não significa que alguns eventos cuidadosamente projetados e elaborados, com acústica controlada, não tenham sido, e não possam ser, realizados no Vale, inclusive com apoio da Viva o Centro. O presidente executivo da Associação menciona os promovidos pelo Sesc em passado recente, sem nenhum prejuízo para o Centro da cidade, pois a entidade teve o cuidado de proteger os jardins do Anhangabaú com gradis móveis e providenciou a limpeza da área logo após.
Debate importante
A Associação Viva o Centro já apresentou propostas para o Vale do Anhangabaú e busca o melhor aproveitamento possível para o logradouro, inclusive para o verdadeiro salão urbano de perto de 1.800 m2 criado pelo grande vão existente sob o Viaduto do Chá. A entidade, além disso, sugere melhorias nas áreas de parada e escadarias existentes nos túneis para permitir a passageiros de ônibus e automóveis o acesso à superfície do Vale.
"Seria lamentável que os jardins do Anhangabaú voltassem a correr riscos, ainda mais quando a Viva o Centro propõe à Municipalidade que o Anhangabaú retome sua vocação natural de portal de acesso ao Centro, sem perda de suas qualidades de pequeno parque central", finaliza Marco Antonio.
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