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Vêm aí um novo censo de moradores de rua em São Paulo e centros de convivência sem a rigidez dos albergues
Acompanhe as respostas da vice-prefeita e secretária Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (Smads), Dra. Alda Marco Antonio, às questões formuladas pela Viva o Centro para a série de reportagens ?Enfrentando a tragédia que é morar na rua?
Desabrigo em São Paulo
A imprensa, refletindo uma percepção da sociedade e dados fornecidos pela própria Prefeitura, vem publicando reportagens sobre o crescimento da população em situação de rua na cidade. Quantos são de fato os desabrigados hoje em São Paulo, 14 mil, 15 mil, 19 mil, 21 mil....? Por que os números conflitam tanto nesse caso? E quantos vivem de fato pelas ruas do Centro? Vice-prefeita e secretária Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social Alda Marco Antonio ? Não tenho essa resposta, agora. Logo que assumi a Secretaria, no dia 6 de janeiro passado, já articulei com as pessoas que dirigem a Smads comigo um contato com a Fipe, a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas ligada à Universidade de São Paulo (USP), para realizar o segundo Censo de População de Rua na cidade O primeiro foi realizado no ano 2000, também sob os auspícios e contrato desta Secretaria. Naquela época eu também estava à frente dela e tinha como principais dirigentes pessoas que hoje estão novamente comigo. Portanto, esta é uma pergunta que com a minha responsabilidade eu não posso responder. Os únicos números sobre a população de rua em São Paulo datam do ano 2000. Provavelmente ? quase que com certeza ? eles devem ter mudado, mas eu vou saber essa resposta no final do ano, porque o censo demanda uma preparação muito grande, e responsável. A Fipe está preparando esse censo, o que envolve a escolha/seleção e preparação das pessoas que irão às ruas, envolve as entidades que trabalham com moradores de rua e treinamento de quem fará a abordagem. Essa preparação e treinamento significam seminários e, além de tudo, a escolha do período mais adequado ? um período que possa significar a maior realidade em relação a moradores de rua.
E esse período seria? Estamos prevendo entre a última semana de agosto e a primeira semana de setembro. Final do inverno, não tem chuva ainda. No alto verão a gente sente que muita gente vai para a praia, sobretudo mendigos. Eles migram para zonas onde podem ganhar bastante ? o litoral paulista. No alto inverno muitos ficam acolhidos ou escondidos. Nós achamos que no final de agosto/começo de setembro teremos uma amostra o mais abrangente possível. A contagem será feita na cidade inteira. A cidade de São Paulo tem 94 distritos. Em 2000 nós fizemos a pesquisa em 92, porque Engenheiro Marsilac e Anhanguera não apresentavam moradores de rua. Agora não sei se eles têm ou não. Se tiverem, faremos nos 94 distritos. E esses números vocês terão, com certeza, pois iremos divulgar assim que a Fipe completar o estudo.
O número de moradores de rua na cidade de São Paulo deve ter se alterado, evidentemente, de 2000 para 2009, como a Sra. mesma disse. A sua percepção coincidiria com a da sociedade, teria havido aumento? Pode ter se alterado, mas não posso estimar. Como gestora de políticas públicas tenho que trabalhar com dados objetivos. E estes eu vou buscar na pesquisa científica.
Partindo-se da hipótese de que tenha havido aumento no número de desabrigados na cidade, quais seriam as razões hoje, levando-se em conta que nos últimos anos falava-se em desemprego estrutural, fruto de mudanças na economia...? O impacto da crise econômica mundial no Brasil já teria tido tempo de figurar entre eles? A minha responsabilidade não permite responder a essa pergunta, pois seria muita especulação da minha parte.
Qual seria o perfil dos adultos em situação de rua hoje na cidade de São Paulo? O perfil correto também vai sair da pesquisa da Fipe. Mais uma vez tenho de retornar a ela. De trabalhos anteriores, posso dizer que a maioria dos moradores de rua é constituída de homens adultos. O percentual sempre foi em torno de 85% de homens e 15% de mulheres. Na pesquisa feita em 2000, os menores de idade estavam abaixo de 10%. Eu não sei se esses números irão, em termos percentuais, ser confirmados ou não. Entre outubro e novembro teremos todas essas respostas.
Os Motivos
As causas que levaram essas pessoas para as ruas seriam quais? São as mais variadas. Eu acho que o carro-chefe é o desemprego ou a falta de possibilidade de inserção no mundo do trabalho. Mas tem muito alcoolismo, visivelmente. Droga, também. Mas sem um estudo científico correto, responsável, é difícil dizer.
A desagregação familiar estaria também entre as causas? O número maior de homens nas ruas me leva a pensar ? é só uma sugestão ? que os homens fogem mais dos problemas do que as mulheres. Onde estarão as esposas e os filhos desses homens que estão nas ruas? Provavelmente em alguma casa, sendo sustentados por mulher que faz faxina, criando dois, três, quatro filhos. Mas é só o pensamento de uma mulher, não tem uma pesquisa científica que me prove isso. O número alto de homens pode sugerir, também, que ele (homem) veio de outra cidade procurar emprego. Acabou o dinheiro, não tinha mais como pagar pensão, passou a morar na rua. Pode ser que fique envergonhado ou constrangido de procurar a família.
Pode ser egresso do sistema penitenciário, também. Pode ser, mas eu não posso afirmar.
Situação dos albergues
Algumas entidades dizem que a desativação de albergues como o Jacareí (em 2008) e recentemente o São Francisco (Glicério, com 450 pessoas) e Pedroso (Viaduto Pedroso, 450 pessoas), a perspectiva de fechamento do Arsenal da Esperança (Mooca, para 1.150 pessoas) e a anunciada intervenção para lacrar cortiços que se encontram em péssimo estado deverão elevar ainda mais o número de pessoas em situação de rua no Centro, porque estas não iriam para o albergue em Engenheiro Marsilac, região muito distante, que fica além da Capela do Socorro, na Zona Sul. Como administrar essa questão? Esses albergues foram fechados com a maior clareza possível e com o maior acerto desta Secretaria, porque deixavam a desejar quanto à questão de salubridade e segurança das pessoas. Os albergues foram fechados, não as vagas. Estas foram transferidas, nenhum leito foi desativado. Com relação ao Arsenal da Esperança eu me surpreendo com essa afirmativa na pergunta, porque eu estive recentemente lá, acompanhada do cônsul da Itália. O Arsenal é um dos melhores albergues que eu já vi funcionando. Ele é administrado por padres e voluntários italianos. Lá tem engenheiros, tem médicos que fazem voluntariado, porque o Arsenal da Esperança é uma rede mundial. Eu não tive nenhuma notícia de que ele vai fechar. Quem foi que deu essa notícia, que para mim é uma novidade?
Demos com ela na pesquisa que fizemos para esta entrevista. Vocês conhecem o Arsenal?
Conhecemos, mas não chegamos a checar a procedência da informação. Até pé de jaca tem lá. Eu tive a chance de mostrar ao cônsul da Itália em São Paulo o que é um pé de jaca, que é uma fruta excelentemente tropical, uma fruta brasileira que ele não conhecia.
Corrigida a informação, para muitos moradores de rua bastaria, para funcionarem, que os albergues cumprissem a lei, como não atender mais do que a capacidade máxima recomendada de 100 pessoas, manter cursos de capacitação e encaminhar os albergados para documentação e emprego. Por que os albergues não funcionam e são sempre muito criticados por entidades que atendem moradores de rua ou que os representam? Houve casos até de assassinatos em alguns deles. Assassinato eu vou explicar o que foi. Não foi briga dentro do albergue e nem foi entre dois albergados. Um albergado saiu para a rua do albergue, encontrou alguém que era provavelmente um desafeto seu e saiu correndo, depois entrou dentro do albergue para se abrigar. E foi morto por essa pessoa que ele encontrou. Não foi nenhum problema dentro do albergue, que isso fique bem claro. O resto da pergunta...
Há uma crítica dos moradores de rua e de algumas entidades que os atendem de que os albergues não funcionam em período integral, não oferecem cursos de capacitação, enfim, não dão o apoio de que precisam para sair da situação de indigência em que estão. Vários albergues fazem tudo isso que foi apontado pela pergunta. Vários. Nós temos 40 equipamentos que fazem abrigamento. Mudou até o nome, não é mais albergue, agora é Centro de Acolhida. A maioria faz tudo isso.
A maioria funciona em período integral? A maioria ajuda a conseguir documentação. Quanto aos cursos de capacitação oferecidos pelos albergues, trabalhamos com cursos fixos e esporádicos, palestras e oficinas de trabalho em 70% da rede (clique para conhecer alguns deles). Deixa eu dizer o que senti com relação a morador de rua. O aparato público para atender morador de rua quando eu cheguei aqui consistia de educadores nas ruas, uma rede de peruas e os albergues. Grande parte daqueles que moram na rua não consegue ir para albergues. A resposta que eles dão: ?Ah! Tem que ficar ditando dados lá para eles preencherem uma ficha?. Muitos não gostam. ?Ah! Precisa tomar banho.? Muitos não gostam. O que eu senti? Está faltando um equipamento. Vamos criar agora Centros de Convivência. No Centro da cidade estão previstos um em Santa Cecília e um no Parque D. Pedro. Esses centros vão funcionar 24h por dia, o morador de rua entra e sai à hora que quiser. Lá vai ter mesas, possibilidade de jogar damas, dominó, de assistir televisão. Vai ter ?importantíssimo ? vasos sanitários e chuveiros. Lá em Santa Cecília, inclusive, haverá tanquinho para lavar roupa se ele quiser, mas sem nenhuma obrigação de fazer isso.
O que se objetiva? Que o morador de rua se sinta seguro para entrar e sair desse local, sem obrigação nenhuma. Ele vendo lá um chuveiro, se quiser tomar banho, vai ter chance. Se quiser usar o banheiro, que é importantíssimo para nós e para ele, pois sanitariamente seguro, vai usar. Se ele ficar duas horas por dia num local como esse vai ter uma relação saudável com alguém, com algum educador que vai conversar com ele, tentar extrair dele a sua maior dificuldade. É documento? Vamos encaminhar, criar a possibilidade de solução para esse problema. Você veio de onde? Qual é a sua cidade? Pretende voltar? Vamos estudar a possibilidade de lhe proporcionar essa viagem de volta. Você tem algum problema de saúde? Vamos ver para onde encaminhar. Ou seja, se aquele morador de rua que não suporta albergue começar a frequentar esses centros pode chegar a um ponto de vir a suportar. Digamos que ele sinta vontade de tomar banho e tome um dia. Passe dois ou três dias sem tomar banho, mas volte e tome outro banho. Se ele começar a tomar banho todo dia significa que incorporou o valor do banho, o prazer de estar limpo. Isso já é meio caminho andado para ele sair da rua, porque ninguém tira ninguém da rua. Ele sai quando não suportar mais a rua. E eu tenho é que abrir caminho para ele criar condições de não suportar mais a rua. E isso é o que estamos fazendo.
Inauguração dos centros de convivência
Dra. Alda, e a perspectiva de esses centros entrarem em funcionamento é para quando e com quantas vagas? Eles serão inaugurados entre 30 e 45 dias. Já estão em obras e montagem. O número de vagas? Não têm limite. São centros abertos, que vão contar com mesas, lavatórios, banheiro e chuveiro, televisão, pebolim. Mas eu quero conversar com as entidades que doam comida aos moradores de ruas nas calçadas, à noite, e tentar convencê-las a fornecer esse alimento dentro desses locais.
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