Os sinos do São Bento


Autor: Jorge da Cunha Lima
13/08/2013

Tenho velhas fotos do São Bento, de quando estudava lá. O que mais me impressionava, por inacessíveis, era o claustro dos monges e os andares superiores dos sinos da Basílica. O claustro, de pedras cinzentas e folhagens de um verde, tão austero, que também parecia pedra. Consegui, algumas vezes, farejar essas belezas, acrescidas do canto gregoriano dos monges. O canto religioso era a pausa de silêncio entre as batidas regulares dos sinos. Esses, sim, estavam perdidos no tempo. Não pareciam marcar as horas da cidade moderna, nem a nossa agenda rigorosa de alunos; paradoxalmente marcavam o atemporal, estavam perdidos há quatrocentos anos no triângulo que marcava os limites inaugurais da cidade de São Paulo. Tínhamos amigos que ficaram amigos até hoje, felizmente a maioria deles vivos. Interessante é que os mortos são tão presentes quanto eles. Aqueles sinos do São Bento, soldados em bronze, também soldaram essas amizades que ecoam no tempo.
Hoje restauraram os sinos, modernizaram os controles, agora eletrônicos, mantiveram o som e a gravidade. Mantiveram a pontualidade. É por eles que marcamos as horas da vida e da cidade, os sinos do São Bento.

 

* Texto publicado originalmente no blog de Jorge da Cunha Lima no portal iG em 13/08/2013.

 

Os textos dos articulistas não refletem necessariamente a opinião da Associação Viva o Centro.

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